Russell nasceu em 1872. Ele veio de uma tradicional família burguesa
britânica. Russell estudou matemática em Cambridge e, como consequência da
rigorosa educação erudita que a sua família o proporcionou e pelo seu interesse
pela filosofia, ele era adepto de uma filosofia realista extrema que incluía
uma visão idealista da matemática. Foi no decurso da redação de um livro para
expor esta filosofia que Russell encontrou as ideias de Frege; quando o livro
foi publicado em 1903 com o título The
Principles of Mathematics, incluía uma simpatização por estas ideias.
Embora admirasse as ideias de Frege, Russell detectou uma falha fatal no
sistema.
Se quisermos progredir de número para número da forma que Frege propõe,
devemos ser capazes de formar conjuntos de conjuntos sem restrição. Os
conjuntos devem ser eles mesmos classificáveis; devem ter a possibilidade de
ser elementos de conjuntos. Entretanto, surge a questão: pode um conjunto ser
elemento de si mesmo? A maior parte não pode (por exemplo, o conjunto dos cães
não é um cão), mas algumas, aparentemente, podem (por exemplo o conjunto das
ideias é seguramente uma ideia). Parece
assim que os conjuntos podem se dividir em duas espécies: existe o conjunto dos
conjuntos que são elementos de si mesmos, e o conjunto dos conjuntos que não
são elementos de si mesmos.
Considere agora este segundo conjunto: é ele próprio elemento de si
mesmo ou não? Se é elemento de si mesmo, então, uma vez que é precisamente o
conjunto dos conjuntos que não são elementos de si mesmos, não pode ser
elemento de si mesmo. Mas, se não é elemento de si mesmo, tem a propriedade que
o qualifica como elemento do conjunto dos conjuntos que não são elementos de si
mesmos, e portanto é elemento de si mesmo. Aparentemente, ele deve ser ou não
um elemento de si mesmo; mas, seja qual for a alternativa ser escolhida, a contradição é inevitável.
A esta descoberta chama-se paradoxo
de Russell, que mostra existir algo de vicioso ao formar conjuntos
de conjuntos e compromete todo o programa empreendido por Frege.
O próprio Russell estava tão apostado no logicismo quanto Frege e
empreendeu o desenvolvimento de um novo sistema lógico no qual se propôs a
derivar a totalidade da aritmética a partir de uma nova base puramente lógica.
Sabemos hoje
que o programa logicista não pode jamais ser levado a cabo com sucesso. O
caminho a partir dos axiomas da lógica, passando pelos axiomas da aritmética
até aos teoremas da aritmética, está obstruído em dois pontos. Primeiro, como o
paradoxo de Russell mostrou, a teoria ingênua dos conjuntos, que fazia parte da
base lógica de Frege, era em si inconsistente e as soluções que Frege propôs
foram ineficazes. Assim, os axiomas da aritmética não podem ser derivados de
axiomas puramente lógicos da forma que Frege esperava. Segundo, a própria noção
de "axiomas da aritmética" foi mais tarde posta em questão quando o
matemático austríaco Kurt Gödel mostrou que era impossível dotar a aritmética
de uma axiomatização completa e consistente ao estilo que Russell propôs.
Apesar de tudo, os conceitos e as perspectivas desenvolvidos por Frege e
Russell no decurso da exposição da tese logicista continuam a ter interesse em
si; e o seu interesse não diminuiu com fracasso daquele programa.
Toda a bagagem construída por Russell e Frege no
empreendimento logicista serviu como ferramenta importante no desenvolvimento
de uma faceta muito importante da filosofia do século XX.
Em publicações
posteriores, Russell fala constantemente da atividade do filósofo como uma
atividade de análise. Por "análise" entende Russell uma técnica de
substituição de modos de linguagem que de alguma forma são logicamente
enganadores por outros logicamente claros. Mas, no espírito de Russell, a
análise lógica era muito mais do que um dispositivo para a clarificação de
frases e argumentos. Ele concluiu por pensar que, depois de alcançada uma forma
clara para a lógica, ela revelaria a estrutura do mundo.
A sua forma de pensar, que ficou conhecido como atomismo lógico, foi
apresentado numa famosa série de conferências em 1918. Não foi de modo algum a
última palavra de Russell em filosofia. Nos 52 anos que lhe restaram, Russell
escreveu muitos livros e ensaios sobre lógica, conhecimento, moral, educação e
até mesmo relacionamentos pessoais. Na parte final da sua vida, tornou-se
conhecido para um público muito vasto como escritor e ativista sobre vários
temas sociais e políticos. Russell era o primeiro a admitir que o próprio
atomismo lógico se devia em grande parte às ideias de um dos seus primeiros
alunos, Ludwig Wittgenstein. Seria também Wittgenstein quem, depois de ter
negado as ideias de Russell, desenvolveu gradualmente as bases da filosofia do
século XX.

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