terça-feira, 26 de abril de 2016

Recomendação de leitura: Logicomix

Logicomix: uma jornada épica em busca da verdade

Livro lançado em 2009 pela editora Bloomsbury na Inglaterra e nos Estados Unidos, com sua versão em Português lançada no Brasil pela editora WMF Martins Fontes em 2010. Trata-se de uma história em quadrinhos com roteiro de Apostolos Doxiadis e Christos H. Papadimitriou com arte de Alecos Papadatos e cores de Annie di Donna.

O livro trata acontecimentos desde a segunda metade do século 19 até o início da era digital da perspectiva do filósofo e lógico Bertrand Russel. Durante a trama, que trata de uma angustiante busca de Russel pela verdade absoluta, este se encontra com vários outros pensadores como Gottlob Frege, Ludwig Wittgenstein e David Hilbert. Em meio a vários conflitos Russel insiste em sua obstinada missão que o leva à beira da insanidade, é interessante a maneira como isso é tratado na história em quadrinhos, que torna leve e acessível o entendimento de vários conceitos usualmente complicados.


A proposta de Logicomix é interessante para o contexto deste blog, pois o livro consegue ser ao mesmo tempo um romance histórico e uma introdução acessível a conceitos de lógica e filosofia matemática, além disso, o formato de história em quadrinhos torna a trama atrativa até para os menos interessados e menos informados sobre os conceitos tratados por ter uma narrativa cativante.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Introdução à Relatividade - parte 1


O estudante de dezoito anos Ryan Chester ganhou US$400,000 por explicar a Teoria Especial da Relatividade neste vídeo na edição inaugural do concurso Breakthrough Junior Challenge – uma competição internacional que visa a inspirar a próxima geração de cientistas e divulgadores científicos. E não é difícil entender o porquê ele ganhou este prêmio, Ryan conseguiu explicar uma teoria que muitos, ao mesmo tempo que a admiram, possuem dificuldade em acompanhar a partir de dois postulados. O primeiro deles, O Princípio da Relatividade, segue anexado em tradução livre.

“Quase todo mundo já ouviu falar da Teoria Especial da Relatividade de Einstein, que foi algo realmente revolucionário, mas que não precisa ser necessariamente complicado ou difícil de entender. Aliás, imagino que nós mesmos podemos formular a teoria a partir de dois postulados. O primeiro postulado diz o seguinte: “As leis da física são sempre as mesmas para qualquer referencial inercial”. Um referencial inercial é sempre o que uma pessoa “consideraria” estar em repouso, eu disse “consideraria” pois você também poderia considerar que este referencial está em movimento em relação à qualquer outro objeto no universo, ou seja, o seu ponto referencial é sempre relativo! Uau, parece que estamos desenvolvendo a teoria da relatividade! Einstein disse que as leis da física são sempre identicas para qualquer referencial inercial, querendo dizer que este referencial nunca está aumentando ou diminuindo a sua velocidade, mas por que que a velocidade sempre tem que ser constante?
Isso é muito fácil de provar, sente em uma cadeira, coloque um balde de pipoca em sua frente e apenas observe o comportamento das leis da física.
Parece que nada está acontecendo...
Agora vamos fazer o mesmo experimento dentro de um carro em movimento com as janelas fechadas. O que aconteceria caso a velocidade mudasse drasticamente quando o motorista freasse fortemente ? De repente, as leis da física começaram a se comportar diferente, mas quando o carro estava andando a uma velocidade constante, não ocorria nada de diferente de quando eu estava sentado na terra observando a pipoca.
Em ambos os pontos referenciais da terra e do carro em velocidade constante a pipoca não se movia mesmo que a terra e o carro estivessem em velocidades completamente diferentes. Até aonde eu posso dizer, as leis da física estavam se comportando exatamente da mesma forma. Assim, nós podemos concluir que o mesmo ocorreria para qualquer referencial em velocidade constante [por exemplo, na lua e em marte que também estão em velocidade constante] e nenhum outro tipo de referencial seria menos válido do que outro desde que ambos tivessem esta característica.
E aqui está! Nós acabamos de provar o primeiro postulado!”


O primeiro postulado foi apresentado a partir de alguns conceitos fundamentais para a descrição de qualquer movimento de qualquer objeto, o próximo postulado a ser apresentado na segunda parte vai abordar um caso particular em que estes conceitos não se verificam: o movimento da luz!

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Uma breve introdução

Os matemáticos do século 21 desempenham uma atividade intelectual altamente sofisticada, que não é fácil de definir. É claro que a matemática surgiu como parte da vida diária do homem, e se considerando o princípio da seleção natural da sobrevivência do mais apto, a persistência da raça humana com certeza tem uma de suas causas no desenvolvimento do intelecto matemático.
 A princípio as noções matemáticas de ordem, grandeza e forma podem ter se originado mais com contrastes do que com semelhanças – por exemplo, a diferença de quantidade entre um lobo e uma alcateia, do tamanho entre um salmão e um tubarão ou da diferença de forma entre a lua cheia e um pinheiro. Gradualmente, após uma massa de experiências sensoriais caóticas, deve ter ocorrido a realização de analogias entre os diversos fenômenos que possibilitou a percepção das semelhanças e, consequentemente, a abstração e aquisição de conceitos. Retomando o exemplo anterior, a percepção entre a semelhança de diferentes casos de contrastes de quantidade entre um lobo e uma alcateia, uma ovelha e um rebanho e uma árvore e uma floresta deve ter sugerido o que viria a ser o conceito de unicidade – ou seja, a ideia da unidade.
 De forma semelhante, a percepção de que certos grupos possuem elementos que podem ser colocados em correspondência um a um –  a exemplo dos pares, pode-se corresponder cada mão a cada pé, olho, orelha, narina, mas não à boca, pois esta esta por ser única não pode pertencer a categoria “par” – levou à aquisição da ideia de que diferentes grupos podem estar inseridos debaixo de um conceito que revela o que todos eles têm em comum: o seu número. Apesar de a ideia de número apresentada  parecer trivial, ela só se tornou vigente depois de uma revolução na matemática no começo o século XX e mesmo assim já não há mais garantias de existir um conceito de número seguro o bastante para sustentar toda a atividade matemática. Tal questão ilustra a dificuldade em se obter ideias que muitas vezes parecem tão óbvias e evidentes, como o zero ou a ideia de um número negativo, através da história da humanidade e de como os diferentes conceitos influenciaram no desenvolvimento técnico-científico e na filosofia de cada época.

Dessa forma, este blog pretende trazer uma série de artigos sobre matemática, porém, a ideia é apresentar esta matéria por meio do seu desenvolvimento histórico demonstrando os seus problemas e as suas trocas de paradigma para trazer luz sobre uma disciplina tão presente em nossas vidas mas que acaba sendo obscurecida pela atividade obsessiva de resoluções de problemas que os estudantes são submetidos no período escolar visando os vestibulares. Ao mesmo tempo, espera-se que este blog seja um motivador para quem pensa em seguir uma carreira em ciências exatas ao mostrar que o estudante também faz parte do desenvolvimento de uma faceta fundamental da história e da filosofia ao aprender, aplicar e desenvolver conceitos que servirão de ferramentas para a resolução de problemas nas áreas de ciência, engenharia e economia.